
Coronel diz que os constantes assaltos aos caminhões de cargas podem ocasionar desabastecimento de alimentos no Rio. E critica as Unidades de Polícia Pacificadora - UPPs. A UPP é um projeto falido que está na hora de acabar
Diretor de segurança do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário e Logística do Rio (Sindicarga), o coronel Venâncio Moura revela que, a partir de 2014 o tráfico de drogas passou a roubar caminhões de cargas, pois viram nessa modalidade de crime um lucro muito maior do que o tráfico e um risco menor. “No primeiro semestre deste ano já ocorreram 5.502 roubos de cargas O que dá uma média de 32 roubos por dia. Um aumento de quase 25% em relação ao ano passado” .
A ação dos bandidos ocorre na área do Complexo do Chapadão e da Pedreira, Zona Norte do Rio, conjunto de favelas que serpenteia os bairros de Costa barros, Pavuna, Anchieta, Guadalupe e Ricardo de Albuquerque. “A Pedreira e o Chapadão estão em local estratégico. Próximo à Via Dutra, Washington Luís e Avenda Brasil, onde circulam milhares de caminhões diariamente” - frisa o coronel.
De acordo com dados divulgados pelo Portal Guia do Transportador, em 2014 ocorreram 17.500 roubos de cargas no Brasil. Um aumento siginificativo em relação ao ano anterior, cujo registro é de 15.200. À época, as cargas mais procuradas pelos bandidos eram produtos farmacêuticos, químicos e autopeças. Mas isso mudou, principalmente no Rio, onde a bandidagem assalta os caminhões, independete da mercadoria.
- Hoje eles estão pegando qualquer carga porque existe um grande mercado, tanto de ambulantes que estão vendendo produtos roubados, como no entorno e dentro da própria comunidade. Então, qualquer produto está sendo aproveitado. Não existe mais aquela seleção que havia anteriormente - revela o coronel.
Ex - comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais - Bope - o coronel Venâncio Moura garante que uma das maiores dificuldades no combate ao roubo de cargas no Rio de Janeiro é a falta de policiamento nas ruas, em função do reduzido efetivo da PM. E critca as Unidades de Polícia Pacificadora - UPPs.
- Foi um grande erro a criação das UPPs, na minha opinião. Hoje nós temos 9.500 homens envolvidos com as UPPs. Caso estivessem sido distribuídos pelos batalhões, teríamos efetivo de 800 homens em um batalhão. A média hoje é de 300, 400 homens em um batalhão. É impossível patrulhar toda a cidade. Antigamente, o marginal ficava encurralado na favela e a polícia no asfalto. Quando o bandido descia, geralmente era preso. Hoje as coisas se inverteram; quem está encurralado é o policial lá em cima morro, e os bandidos estão no asfalto. Para que a gente consiga diminuir esses números alarmantes está comprovado que tem que ter policial circulando para diminuir os espaços deles - explica.
Objetivo nas suas colocações, o coronel diz que a UPP é um projeto falido e que está na hora de acabar. “Outro dia houve uma operação envolvendo centenas de militares e tanques de guerra, no morro Camarista Méier, no Complexo do Lins e São João - Zona Norte do Rio- que são áreas pacificadas. Para que tanque de guerra se a área é pacificada?” - questiona.
Além de mais policiais na ruas para combater os constantes assaltos a caminhões de carga, o coronel compartilha da opinião da ex-chefe da Polícia Civil, e hoje deputada estadual Martha Rocha que, num artigo publicado num jornal carioca em maio último, sugeriu que a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas fosse transformada em Divisão de Roubos e Furtos de Cargas, com maior estrutura de recursos humanos e tecnológicos.
- Acho uma ideia excelente porque hoje a Delegacia de Roubos e Furtos de cargas , responsável por todo o Rio de Janeiro é composta por 60 policias. Divididos em escala de serviço e com o volume de roubo de cargas que nós enfrentamos atualmente é impossível eles prenderem grandes quadrilhas e receptadores. Com a criação de uma Divisão, como existe hoje a Divisão de Homicídios, que coordena ações de várias delegacias, isso daria mais condições para investigar e prender os responsáveis pelos roubos de carga. Da forma que está hoje é praticamente impossível os policiais obterem bons resultados.
A violência urbana expande seus tentáculos em várias direções: os assaltos a caminhões de cargas é um deles. O Rio em particular, e o país como um todo, têm sido prejudicados. O mesmo ocorre com as empresas. Muitas não querem mais enviar cargas para o Rio.
- As empresas de fora do Rio de Janeiro estão negando a entregar seus produtos para o Rio de Janeiro. Não só porque os motoristas estão em pânico, pois só no Rio os roubos ocorrem com a violência de traficantes de drogas. Os motoristas são feitos de reféns, levados para dentro das comunidades enquanto descarregam a carga, uma situção dramática para os caminhoneiros que não estão acostumados a conviver com esse tipo de crime nos estados deles - lembra o coronel.
Por parte das empresas as seguradoras já não querem renovar a apólice de seguro.Determinadas cargas não são mais asseguradas. E o empresário não vai arcar com os prejuízos. A tendência é: ou fecha as portas, ou deixa de transportar para o Rio de Janeiro.
Em junho último mais de cem caminhoneiros realizaram um protesto - organizado pelos empresários do setor de carga - na Avenida Brasil, cujo objetivo foi pedir ajuda do governo federal. Mas até agora nada foi feito. E a crise não dá trégua. Amplia-se cada vez mais
- Quando a seguradora renova a apólice, dobra o preço - dobra o valor do seguro, dobra a franquia. E isso tudo é repassado para o consumidor final, que somos nós. As pessoas não estão percebendo, mas os produtos acabam mais caros, ou então podem começar a faltar nas prateleiras. A médio prazo todos vão começar a perceber isso claramente. É inevitável - adverte o coronel.