A repressão violenta é sempre a solução menos trabalhosa - Alceu Amoro Lima (1893-1983)
Determindas declarações, principalmente em momentos difíceis ou polêmicos, deixam à mostra não só a competência do declarante para exercer determinadas funções, mas também o seu caráter e visão de mundo.
Após o tiroteio ocorrido na Linha Vermelha - principal acesso ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e à Ilha do Fundão - no último dia 17/7/2017, domingo à noite, um confronto entre marginais das favelas Nova Holanda e Baixa do Sapateiro, uma verdadeira guerra urbana em plena via pública. As pessoas abandonaram seus carros para se protegerem agachadas atrás das muretas. Cena que, diga-se de passagem, tem se repetido com frequência. Faz parte da violência carioca, que a cada dia se alastra mais. E não há perspectivas de melhora. Para melhorar, é preciso, em primeiro lugar, encarar a questão da violência como prioridade número um. E,além disso, não deve ser encarada somente como um caso de polícia. Trata-se, na verdade, de um problema social, visto pelas autoridades e sociedade, de forma omissa, preconceituosa e autoritária.
Exemplo disso - entre muitos que eu poderia citar aqui - foi a sugestão do cidadão Vinicius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança do Rio. Ele sugere um corredor blindado na via expressa, ou seja: blindar as lateris com vidro resistente, inclusive a tiros de fuzil. Ou então, um painel de concreto, uma espécie do extinto Muro de Berlim. Disse também que a criminalidade age fazendo guerra irregular “ e a gente tenta enfrentar isso com uma legislação que não consegue desencorajar os bandidos”.
Guerra irregular? Legislação que não consegue desencorajar os bandidos? O que pretende o senhor Vinicius? Instituir a pena de morte? Será? Mas a pena de morte já existe para os pobres, marginalizados, os excluídos.Não sei, sinceramente, o que pretende o senhor Vinicius. Ele precisa ser mais claro, mais objetivo, deixar de lado a linguagem de tecnocrata..
Enquanto a sociedade não tiver uma visão humanista da quetão social e, persistindo a ausência de investimentos sociais dignos de nota para a raia miúda, e não paliativos para enganar os desinfomados, a violência urbana continuará figurando como a principal mazela carioca.
Com ideias preconceituosas, retrógadas e fascistas, e com uma polícia sem condições de trabalho, mal treinada e mal paga, os índices de violência só tendem a aumentar.
Em tempo: a partir das sugestões do senhor Vinicius, lembrei da piada do cara que chegou em casa e flagrou sua mulher o traindo no sofá. Rapidamente resolveu o problema. - tirou o sofá da sala.