“Vivemos hoje numa sociedade que carece de valores éticos e mais: uma sociedade que, por vezes, é imoral e também amoral. Uma sociedade imoral é aquele que transgride os princípios morais que ela mesmo estabeleceu. Portanto, pressupõe a moralidade com a qual entra em conflito; e uma sociedade amoral é aquela que constrói a sua vida em princípios morais. Ambos os casos são perigosos e contrariam a ética”. (Luiz Longuini Neto) *
Há alguns dias, eu estava fazendo um lanche na casa de uma amiga de longa data, quando chegou sua prima acompanhada pelo seu companheiro. Por ocasião do enterro de uma parente de sua mulher, eu já o conhecia.
Depois de alguns minutos após sua chegada, ele começou a conversar comigo. Externou toda a sua revolta com a polícia. Contou que, numa certa ocasião, ao ser parado numa blitz da Polícia Militar, como estava com o IPVA irregular - ou seja: não pagou - teve que dar R$100,00 para ser liberado. Ressaltou que uma mulher comandava a blitz e que por isso chegou a pensar que não teria problema algum. Confesso que não entendi a lógica do seu pensamento. Mas fiquei calado. Levantou do sofá e continuou seu exaltado desabafo contra a polícia. Disse que tanto o homem quanto a mulher, polícia é tudo corrupto. E frisou que em termos de polícia generaliza mesmo, pois todos são corruptos.
O que o cidadão em tela falou é mais comum do que se imagina. Trata-se, no entanto, de um pensamento que não se justifica. Um grande número de pessoas - principalmente da classe média e da elite - tem o hábito de reclamar de tudo. Nada no Brasil presta. Fazem discursos moralizantes e, não raro, entram em contradição com suas opiniões, pois falta conteúdo nas informações. A maioria tem uma visão superficial dos fatos. Além disso, muitos não possuem estofo cultural para contextualizar fatos e situações.
O revoltado cidadão em nenhum momento assume sua culpa. Na verdade, ele errou duas vezes; primeiro, por não ter pago o IPVA; em segundo lugar, aceitou o suborno, contribuindo com a corrupção.
A polícia não é uma instituição diferente das demais. Como em todo lugar, tem os pilantras e os corruptos. Mas também tem policiais sérios, éticos, que honram a profissão. E são maioria.
Em novembro de 2011, dois PMs do Batalhão de Choque participaram da prisão do traficante Antônio Bonfim Lopes, vulgo Nem, chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha, Zona Sul do Rio. Tendo o carro onde estava interceptado, o traficante ofereceu R$1 milhão aos dois policiais para ser liberado. A resposta do 2º tenente Ronald Cadar, e do 1º tenente Disraele Gomes foi um rotundo não. E Nem acabou preso.
Não há dineiro que compre o profissional sério.
Enquanto nossa sociedade for hipócrita, imoral e preconceituosa determinadas mazelas do país não vão mudar. Entre elas, a corrupção, que não está restrita a um governo específico - perpassa a todos. Trata-se de mal cultural. Infelizmente.
Não reclame. Seja ético. Faça a sua parte.
* Luis Longuini Neto é bacharel em Teologia, licenciado em Filosofia, mestre e doutor em Ciências da Religião (Universidade de Hamburgo, Alemanha) e pastor presbiteriano. Tive o prazer e a honra de ser seu aluno quando cursei Teologia.